quarta-feira, 7 de outubro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A unção espiritual e a vida sobrenatural
Espiritualidade

18-09-2009

O Senhor Deus, na sua infinita misericórdia, quis realizar uma obra nova no meio do seu povo, renovando a face da terra através de uma nova efusão do Seu Espírito. Ele derramou sobre Sua Igreja uma graça especial, que nós chamamos de Renovação Carismática Católica, como cumprimento de uma promessa, como resposta da súplica da própria Igreja. O Espírito Santo é a alma da Igreja. É o motor da Igreja para que ela corresponda aos desafios próprios deste tempo.

Deus vai utilizando formas para que a Sua graça penetre dentro da Igreja e atinja toda humanidade. Assim como Stª Teresa, São Francisco, os monges, os eremitas e todos os santos e ordens fundadas são meios que o Senhor se utiliza para penetrar a Sua graça na Igreja e em cada homem, a RCC também é uma graça com características e meios próprios que Deus utiliza para penetrá-la na Igreja e no mundo.

Todos nós que tivemos essa nova experiência do batismo no Espírito Santo somos portadores desta graça para comunicá-la a Igreja e ao mundo.

Tudo devemos fazer para preservá-la. Devemos ter um zelo especial por ela, procurar vivê-la da melhor forma para poder comunicá-la de forma fiel, sem deformá-la, sem abafá-la, sem minimizá-la. “Nós existimos como Shalom para levar esta graça para a Igreja e toda humanidade. Precisamos conhecê-la mais. Ser fiel a ela é ser fiel a nossa vocação. Deformá-la é deformar também a nossa vocação. A dimensão carismática é parte essencial da nossa vocação e faz parte da nossa missão.

Se colocarmos isto de lado, nós estaremos sendo inúteis para a Igreja...Na hora que isto não for importante para nós estamos preparados para morrer porque seremos inúteis para a Igreja. Somos zeladores e comunicadores desta graça... Acolher, animar e comunicar esta graça deve ser a nossa atitude. É nossa responsabilidade acolher e viver bem esta graça. Deus nos está dando e precisamos acolhê-la e vivê-la com qualidade, com profundidade. Viver isto no meio da Igreja é a nossa missão e a Igreja reconhece esta graça em nós, por isto ela precisa ser bem acolhida, bem trabalhada e bem comunicada.

Ela é muito especial, ela é uma graça com “G” maiúsculo. Todos nós somos responsáveis de vivê-la com qualidade e fazê-la multiplicar. Devemos ter um zelo especial para vivermos esta graça, o batismo no Espírito Santo, o exercício dos carismas do Espírito Santo.” ( Parte da palestra do Moysés sobre a espiritualidade da RCC no retiro comunitário da Comunidade de Aliança em maio/96).

Todas as nossas ações devem estar impregnadas desta graça, porque todas as ações acontecem em vista deste desígnio de Deus, de cumprir este desígnio de Deus. Reter esta graça é como reter uma grande fonte num dique. O desígnio de Deus pode ser frustado. Todos nós precisamos estar atentos para não frustarmos o desígnio de Deus. Deus nos constituiu para esta missão. Comunicar esta graça deve ser a nossa prioridade, tudo o mais passa para segundo plano. Devemos estar mobilizados para isto. O mundo está passando por transformações violentas a nível social, econômico, cultural e Deus nos convocou para comunicarmos esta graça. Precisamos tudo fazer em vista do cumprimento deste desígnio de Deus. A Graça do Espírito Santo é para toda a Igreja e toda a humanidade, não é apenas para um grupo de privilegiados, os místicos, mas de todos os batizados.

Além de tudo isto, esse primeiro anúncio deve ser também recheado dos dons carismáticos. Não podemos ter medo de exercitá-los, pelo contrário, esses dons devem fluir livre e eficazmente para que este anúncio seja cheio da ação e do poder do Espírito Santo. O Espírito Santo é a alma de todo anúncio e de toda evangelização. Omitir, deixar de ensinar, não incentivar a ação carismática do Espírito é deixar o anúncio incompleto, é ferir a vontade de Deus, é diminuir os canais da ação de Deus no meio do seu povo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes milagres acompanharão os que crerem...” ( Mc 16,15-18). Os homens não querem apenas ouvir vozes que falem de Deus, mas ouvir a voz de Deus através de nossas palavras. O Espírito Santo deve passar sem obstáculo por meio de nossas palavras.

O Espírito se manifesta principalmente em duas direções: pela santificação ou ação santificadora; e pela unção espiritual, ou ação carismática;. A sua ação santificadora é destinada a transformar as pessoas a partir do seu interior, dando-lhes um novo coração, novo sentimentos. O destinatário do Espírito não é a comunidade, e sim a pessoa em si. O Espírito Santo começa a apresentar-se como uma força de transformação interior, que modifica o ser humano e que o eleva acima de sua condição de maldade.

A presença do Espírito de Deus fica “retido” no homem. Na sua ação carismática ou unção espiritual ele vem sobre algumas pessoas e concede a elas poderes extraordinários, mas apenas temporais, para levar até o fim os compromissos. Essa ação carismática do Espírito de Deus visa principalmente o bem da comunidade, valendo-se das pessoas que o receberam.

Assim, por unção podemos entender a idéia de poder, de força de persuasão. Por exemplo, uma pregação cheia de unção, é aquela onde se percebe, por assim dizer, a forte vibração do Espírito; um anúncio que sacode, que converte de pecado, que atinge o coração das pessoas. O Espírito Santo vem nos reis de Israel, tornando-os idôneos para governar o povo de Deus: Samuel pegou a vasilia de óleo e ungiu o rapaz na presença dos irmãos. Desse dia em diante, o espírito de Javé permaneceu sobre Davi” (1Sm 16,13). O mesmo Espírito vem sobre os profetas de Deus, para que digam ao povo qual a sua vontade. É o Espírito de profecia, que animou os profetas do Antigo Testamento, até João Batista, o precursor de Jesus Cristo: “Eu estou cheio da força do eswpírito de Javé, do direito e da fortaleza, para denunciar a Jacó o seu crime e a Israel o seu pecado”.(Mq 3,8).

A unção é um componente perfeitamente bíblico do termo, presente. Por exemplo, no texto dos Atos, em que se diz que Jesus “foi ungido com o Espírito Santo e com poder”(Atos 10,38).]

A unção é mais um ato do que um estado. É algo que não se possui estavelmente, mas que lhe sobrevém, que a “investe” subitamente, no momento em que exerce um ministério ou durante a oração.

São Basílio diz que o Espírito Santo “esteve sempre na vida do Senhor, sendo a sua unção e o seu companheiro inseparável”, de sorte que “toda a atividade de Cristo se desenrolou no Espírito. Ter a unção significa, assim, ter o Espírito Santo como “companheiro inseparável” na vida, fazer tudo “no Espírito” (cf. Gl5,18). A unção é mais um dom do Espírito do que obra nossa.

Tudo isso se traduz, no comportamento humano, ora por suavidade, calma, paz, doçura, devoção, emoção, ora por autoridade, força, poder, firmeza no comando, conforme as circunstâncias, o caráter da pessoa e também do ofício que se exerce. O exemplo vivo é Jesus que, conduzido pelo Espírito, manifesta-se doce e humilde de coração, mas também, quando preciso, cheio de sobrenatural autoridade.

A unção caracteriza-se por um certo brilho interior que dá facilidade e domínio ao fazer as coisas. É algo comparável à “forma” do atleta e à inspiração do poeta: naquele momento se consegue dar o melhor de si. Porém não é algo imperceptível, inefável. Podemos reconhecer a unção quando estamos diante de uma pessoa que a possui, mas não se pode definí-la com conceitos claros e distintos. A unção participa estreitamente da natureza do Espírito, que é inapreensível.


QUE PODEMOS FAZER PARA OBTÊ-LA?

Graças ao Batismo e à Crisma, já possuímos a unção! Ou melhor, segundo a doutrina tradicional baseada em 2Cor 1,21-22, ela imprimiu em nossa alma um caráter indelével, como um ferrete ou um selo. Esta unção não pode ficar inativa, inerte, se não a “libertamos”, como um ungüento perfumado que não espalha nenhum bom odor enquanto ficar fechado no vaso. É preciso quebrar o vaso de alabastro! O vaso de alabastro, quebrado pela mulher, graças ao qual “a casa ficou toda perfumada” (cf. Jo 12,3), era símbolo da humanidade de Cristo, o verdadeiro “vaso de alabastro” por sua pureza, e que teve de ser quebrado na Paixão, para que a fragância do Espírito Santo, nele encerrada, pudesse derramar-se e perfumar toda a Igreja e o mundo inteiro. Esse vaso foi a humanidade de Jesus, totalmente repleta de seu perfume.

Porém, na hora da morte, esse vaso se rompeu. Até fisicamente seu peito foi transpassado, e assim o Espírito Santo foi derramado no mundo e inundou de perfume a sua Igreja. Jesus ressuscitado encontra os discípulos ainda na tardinha da Páscoa. Soprou sobre eles, quase como que evocando o sopro criativo do princípio de tudo e disse: “Recebam o Espírito Santo”. Veja o que nos diz Santo Inácio de Antioquia: O Senhor recebeu sobre a cabeça uma unção perfumada, para efundir sobre a Igreja o odor da incorruptibilidade.

Eis o que se insere a nossa parte no que tange à unção. Ela não depende de nós, mas de nós depende remover os obstáculos que lhe impedem esparramar-se. Não é difícil compreender o que significa para nós quebrar o vaso de alabastro. O vaso é a nossa humanidade, o nosso eu, e por vezes o nosso árido intelectualismo. Quebrá-lo significa render-se a Deus, significa obediência até a morte, como Jesus.

Atenção! Nem tudo está entregue ao esforço ascético (talvez pode dizer o que siginifica ascese). E muito mais depende a fé, a vida de oração, a súplica humilde. Jesus recebe a sua unção “quando estava rezando” (cf. Lc 3,21). “Quando mais o Pai celeste saberá dar a unção do Espírito Santo aos que lho pedirem!” (cf Lc 11,13). É preciso, pois, pedir a unção do Espírito Santo antes de assumir qualquer função importante a serviço do Reino. Porque não dizer de vez em quando: Unge meu coração e minha mente, Deus todo-poderoso, para que eu possa proclamar com a doçura e o poder do Espírito a tua Palavra? Alguns cânticos são particularmente apropriados para favorecerem esse abandono à unção que vem do alto. Um deles é o Veni Creator, mas há outros. Quantos não terão sentido descer sobre si a unção do Espírito enquanto ressoava estes cânticos do Espírito?

Por vezes se tem uma experiência quase física da recepção da unção. Uma certa emoção, clareza e firmeza se apoderam de súbito da alma; desaparece todo o nervosismo, todo o medo e toda a timidez; experimenta-se um pouco da clama e da própria autoridade de Deus.


LÍDERES UNGIDOS PARA ESPALHAR NO MUNDO O ODOR DE CRISTO

Há uma necessidade que todo o povo de Deus seja ungido pelo Espírito, pois a unção não se limita a algumas categorias de pessoas na Igreja. O ungüento espalha perfume sempre, com sua simples existência. E a unção foi conferida a cada cristão, justamente para que se torne “o bom odor de Cristo” (cf. 2 Cor 2,15). Porém para a liderança essa necessidade da unção é vital, entendida no seu duplo aspecto de doçura e força. O líder pode ter recebido a autorização para fazer ou tomar determinadas decisões, mas ele precisa de autoridade no fazê-las.

O Espirito Santo, conforme esta sugestiva leitura espiritual da Bíblia, é aquele óleo precioso derramado sobre a cabeça do novo Sumo Sacerdote, que é Cristo Jesus. Da cabeça ele se espalha “como uma mancha de azeite” escorrendo pelo Corpo da Igreja até a orla da sua veste, até onde a Igreja toca o mundo. A liturgia se apropria desta imagem quando, na Missa do Crisma, a Quinta-feira Santa, formula esta oração que também recitamos, encerrando esta meditação: Ó Deus, que ungistes o vosso Filho único com o Espírito Santo, e o fizestes Cristo e Senhor, concedei que, participando da sua consagração, sejamos testemunhas da redenção que Ele nos trouxe.(Missal romano-oração da Missa do Crisma, Quinta-feira Santa).

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